Tuesday, November 4

Mônica Rubinho - texto

Texto da exposição:

Mônica Rubinho

Confidências visuais

Mônica Rubinho é tão atenta ao mínimo índice de potência poética que consegue descobrir ninhos de passarinhos em caminhadas pelas ruas de São Paulo. Ou achar galhos secos de configuração especial que, raspados e lixados com paciência de marceneira de signos visuais, transforma em expansão tridimensional de seus desenhos.

Nesse vocabulário de sutilezas, os detalhes são a parte que convoca a lembrança do todo. Algo assim como aquela pérola, índice de memória indelével, colhida por colherinha de prata, outro repositório de tempo. Ou o registro fantasmático da sombra de árvore frondosa.

Tudo nos propõe um olhar muito próximo, na distância íntima das confidências ou invocações do já vivido. Há poucos trabalhos em formatos maiores. Mesmo neles, não se altera a dicção camerística: precisam ser olhados de perto, para que a sinuosa trama de desenhos e bordados seja quase escutada em sua textura. Para observar-se que o suporte é elemento constitutivo indissociável do discurso artístico.

Mônica traz nesta exposição desdobramentos de um repertório denso, desenvolvido ao longo de uma sólida trajetória de quase duas décadas em que vem resignificando coisas do cotidiano e transformando-as em objetos-poema ou instalações-poema. Desta vez, ela trata daquelas coisas que assomam à água escura do esquecimento e fazem doer o nervo exposto das horas póstumas.

O processo criativo da artista, agora, incorpora ainda mais procedimentos da gravura. Além das texturas e velaturas obtidas com vidros jateados, Mônica passou a explorar acúmulos de imagens carimbadas. Carimbos que, em áreas mais densas de tinta, têm a aparência veludosa da técnica da maneira-negra da gravura em metal.

A série atual de trabalhos extrai beleza da inexorável percepção da ausência irradiada desde o “lugar do quase hoje”. Ou seja, um lugar fora do tempo e das contingências terrenas. Algo imaterial, em eterna suspensão, que podemos evocar mas não mais habitar ou conviver. São tecidos imanentes da ausência, feito lenços ou sudários.

Angélica de Moraes

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